Trabalho de Conclusão de Curso
Documento
Autoria
Unidade da USP
Data de Apresentação
Orientador
Banca
Santos, Heliani Berlato dos (Presidente)
Mendes, Luciano
Título em Português
Trajetórias Ressignificadas: o Papel da Ressocialização na Conduta de Vida de Ex-presidiários
Palavras-chave em Português
Carreira
Desvio
Ex-presidiário
Ressocialização
Resumo em Português
Este trabalho teve por objetivo compreender como o processo de ressocialização pode influenciar a trajetória de carreira de egressos do sistema prisional. Investigou-se sujeitos que já passaram pela prisão e hoje trabalham de forma lícita, sem envolvimento com o crime. Os relatos foram interpretados à luz da Análise de Discurso, dando suporte para uma discussão pautada na construção de significados. Observou-se que os indivíduos apresentavam fracos vínculos com a sociedade, não construindo sentido sobre as regras socialmente aceitas. A fragilidade dos laços propiciou o envolvimento com facções que baseiam suas atividades a partir da transgressão da lei. Destaca-se a existência de um código de conduta sobre o crime, que constrói justificativas sobre a prática criminosa. A passagem pela prisão é vista como um período de sofrimento, agravado pela restrição da liberdade e o emprego de violência física e psicológica pelos agentes penitenciários. A falta de recursos e tratamento digno nas relações demarcam um ambiente de abuso de poder. Por meio do construcionismo social, verificou-se a existência de dois processos que caracterizam a transformação do sujeito. O primeiro processo foi chamado de “ressignificação da trajetória biográfica”, que envolve a tomada de decisão do abandono da carreira criminosa, reinterpretando a trajetória à luz das regras determinantes sobre o “certo” e “errado”, sendo estas medidas relativas às normas aceitas pelo grupo social dominante. Essa transformação é possibilitada pela influência da família e da religião sobre as bases normativas do indivíduo, denominadas de pontes de transformação. Diante disso, a ressocialização é o reconhecimento da necessidade de enfrentar barreiras que impedem a inclusão do indivíduo na sociedade. Estas barreiras são construídas por meio dos rótulos e estigma, demarcando uma rejeição social. O processo de ressocialização seria o conjunto de subsídios oferecidos pelas instituições penitenciárias, de assistência social oferecida pelas instituições do ambiente externo e da adoção de estratégias conscientes pelo indivíduo para o enfrentamento das barreiras que dificultam a inclusão social. Enquanto o processo de ressignificação da trajetória biográfica atua em nível de consciência individual, o processo de ressocialização se traduz em nível da coletividade. Para os egressos, a principal forma de conquistar a aceitação social é por meio do trabalho. O trabalho materializa a mudança individual na sociedade e permite que o indivíduo seja mais bem aceito nas relações sociais. Diante disso, o egresso tem pouca possibilidade de procurar trabalhos tendo em vista seus interesses pessoais. Ainda, os egressos são suscetíveis às organizações que valorizam suas mudanças. A trajetória de carreira de egressos evidencia a forte conexão entre indivíduo-ator e mundo de trabalho, em que ambos interagem no tempo e espaço para a construção de discursos que sintetizam a trajetória de vida no trabalho. Desta relação, a linearidade do tempo e espaço é pouco evidente em virtude das transições que este indivíduo faz em sua carreira, passando de uma concepção de “carreira criminosa” para “carreira desviante”, para depois atuar no sentido de desprender-se de seu rótulo de “ex-presidiário” e ressignificar sua trajetória tendo em vista a recuperação dos vínculos com a sociedade.
Palavras-chave em Inglês
Career
Deviance
Ex-prisoner
Resocialization
Resumo em Inglês
This study aimed to understand how the process of resocialization can influence the career trajectory of ex-prisioners. We investigated people that have already passed through the prison and today work in a lawful way, without involvement with the crime. The narratives were interpreted in the light of Discourse Analysis, giving support to a discussion based on the construction of meanings. It was observed that individuals had weak ties to society, not making sense of socially accepted rules. The fragility of the bonds allowed the involvement with factions that base their activities from the transgression of the law. It emphasizes the existence of a code of conduct on crime, which builds justifications for the criminal practice. The passage through prison is seen as a period of suffering, aggravated by the restriction of freedom and the use of physical and psychological violence by prison officers. Lack of resources and decent treatment in relationships mark an environment of abuse of power. Through social constructionism, we verified the existence of two processes that characterize the transformation of the subject. The first process was called "re-signification of the biographical trajectory", which involves decision-making on the abandonment of the criminal career, reinterpreting the trajectory in the light of the determinant rules on "right" and "wrong", these measures being related to accepted norms by the dominant social group. This transformation is made possible by the influence of family and religion on the normative basis of the individual, called transformation bridges. Faced with this, resocialization is the recognition of the need to face barriers that prevent the inclusion of the individual in society. These barriers are built through labels and stigma, marking a social rejection. The process of resocialization would be the set of subsidies offered by penitentiary institutions, social assistance offered by institutions of the external environment and the adoption of conscious strategies by the individual to face the barriers that hinder social inclusion. While the process of re-signification of the biographical trajectory acts at the level of individual consciousness, the process of resocialization is translated at the level of the collectivity. For ex-prisoners, the main way to reach social acceptance is through work. The work materializes individual change in society and allows the individual to be better accepted in social relations. Given this, the ex-prisoner has little possibility of looking for work in view of his personal interests. Yet, ex-prisoners are susceptible to organizations that value their change. The career trajectory of ex-prisoners evidences the strong connection between individual-actor and work world, in which both interact in the time and space for the construction of discourses that synthesize the trajectory of life at work. From this relation, the linearity of time and space is not very evident due to the transitions that this individual makes in his career, from a conception of "criminal career" to "deviant career", to later act in order to detach himself from his label " ex-prisoner" and re-signify its trajectory in view of the recovery of the bonds with society.
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Data de Publicação
2018-09-13
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